6 de ABRIL de 2010
Somos um grupo de directoras técnicas de lares licenciados, dos concelhos de Torres Novas, Tomar e Ourém, que cansadas da concorrência desleal dos chamados “lares clandestinos” resolvemos pôr mãos à obra.
Todas nós temos vários casos de utentes que saíram (e que continuarão a sair) dos “nossos” lares para “casas clandestinas”, já para não falar dos utentes que nem chegam a sê-lo, porque as “casas clandestinas” proliferam por todo o lado e qualquer pessoa conhece pelo menos uma dessas “casas”.
Depois, ainda existem os hospitais que encaminham os utentes para estas “casas”, assim como algum do pessoal hospitalar (enfermeiras, auxiliares…) possuem também este negócio em paralelo, desviando os doentes para as suas “casas”.
Apesar, de algumas de nós terem feito denúncias de várias casas clandestinas à Segurança Social, nada tem diminuído o número de “casas clandestinas”, até porque como referimos anteriormente, elas proliferam por todo o lado, são semelhantes a uma praga.
O Instituto de Segurança Social fecha uma “casa clandestina”, no outro dia, ou na outra semana, ou no outro mês o dono reabre em outro sítio qualquer, até que se repita novamente o mesmo ciclo.
Presentemente, todas as nossas instituições ressentem-se com esta concorrência desleal, temos vagas que demoram meses a serem preenchidas e que por consequência não temos capacidade para criar novos postos de trabalho e não possuímos capital para investir em equipamentos, porque as contas ao fim do mês são sempre as mesmas, e os utentes não!
Todas nós sentimos que estas casas estão afectar seriamente as nossas instituições, julgamos que este não será um fenómeno exclusivo da nossa área geográfica, mas pensamos que todos os lares lucrativos estão ameaçados por estas “casas”.
Actualmente, o nosso país está a passar por uma grave crise económica, as famílias têm pouco poder económico e também muitas delas não conseguem prestar os cuidados que uma pessoa idosa requer, devido à vida moderna desenfreada. Infelizmente também existem famílias que não se preocupam com os seus entes queridos mais velhos, mas sim com os valores que eles podem representar mensalmente no orçamento familiar, descurando no sítio onde iram passar os últimos anos de vida.
A Segurança Social anda numa incessante “caça às bruxas”, que apesar do seu esforço inglório, cumpre com a sua missão, mas que infelizmente não consegue combater esta praga, porque no nosso entender terá que ser o Estado a criar novas políticas e novas estratégias, visto que estas não são eficazes.
O mais contraditório e simultaneamente caricato é que o Estado é conivente e patrocinador das “casas clandestinas”, pois vejamos: nos lares lucrativos é obrigatório ter enfermeiro, nas “casas clandestinas” os enfermeiros do Centro/Extensão de Saúde deslocam-se até lá gratuitamente, assim como os terapeutas ocupacionais, não podem ir aos lares lucrativos mas às “casas particulares” já podem.
Não podemos ficar de braços cruzados, quando temos conhecimento através de relatos de pessoas e pelos media de casos graves de negligência e de maus-tratos a pessoas idosas.
O que pretendemos fundamentalmente é somente que todos os “lares clandestinos” sejam legalizados. Para tal é necessário haver intervenção do Estado, através de criação de novas políticas rigorosas e severas, nomeadamente a criação de equipas vocacionadas somente para a regulação e fiscalização, criação de uma “lista negra nacional” de todos os infractores, e os reincidentes deveriam ser punidos como uma pena de prisão.
Além da dignidade que estas medidas trariam às pessoas idosas, o Estado seria também beneficiado com estas medidas, pois iria encaixar nos seus cofres mais impostos, e a criação de mais postos de trabalho para jovens licenciados e desempregados.
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